Com destino à Universidade Federal de Goiás (UFG), os alunos Leticia Santos Maciel e Rodrigo Camargo Soares Figueiredo, do último e segundo ano da graduação, respectivamente, tiveram a oportunidade de participar da primeira edição do Intercâmbio Nacional. Para saber mais sobre a experiência, os discentes responderam algumas perguntas à coluna “FOUSP no Brasil”.
Por que escolheu essa Universidade?
Leticia: Escolhi a UFG pois eles são bastante conhecidos pela sua área de odontopediatria e pelo centro de sedação – Núcleo de Estudos em Sedação Odontológica (NESO). Como aqui na faculdade não temos contato com o atendimento com sedação, achei que seria ótimo ter essa experiência antes de me formar.
Rodrigo: Eu tinha em mente as opções onde o hospital universitário com residência em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (CTBMF) fosse próximo à faculdade, por conta da iniciação científica que estou fazendo.
Como foi o processo seletivo?
Leticia: O processo seletivo contou com a entrega de diversos documentos, como histórico escolar, declaração de PPI (Pretos, Pardos e Indígenas), carta de motivação para o intercâmbio e também um documento descrevendo se eu fazia iniciação científica e sobre o que era ela.
Acredito que o que mais fez a diferença na escolha dos candidatos foi a carta de interesse, pois é nela que podemos contar o motivo de querermos vivenciar essa experiência e o nosso diferencial. E também a carta que contamos sobre a iniciação científica, já que nela descrevemos o que do nosso projeto poderia ser realizado na faculdade que escolhemos ir.
Rodrigo: O processo foi baseado em uma análise de currículo. Enviamos os documentos solicitados juntamente com uma carta de motivação. Eu pude apenas participar do intercâmbio nacional porque ainda não completei os créditos mínimos para a modalidade internacional. Acredito que estar em uma iniciação científica fez a diferença na minha seleção, porque indicou para os professores organizadores a minha intenção de viajar para divulgar e desenvolver o meu projeto.
Qual foi sua principal motivação para realizar o intercâmbio?
Leticia: Estou no último ano da graduação e sempre estive aberta para novas experiências e o intercâmbio nacional nunca havia passado pela minha cabeça. Quando o processo seletivo abriu, eu tive a certeza que queria participar, para poder conhecer mais da odontologia no Brasil e como funcionam outras faculdades da área.
Rodrigo: Minha motivação estava muito ligada com a possibilidade de conhecer uma faculdade com uma outra visão de ensino e com diferentes projetos. Além de enriquecer o currículo, eu também queria visitar uma região do país inédita para mim e expandir as minhas referências culturais
A faculdade visitada e a grade horária mudam muito em relação à FOUSP? O que mais gostou? Quais as principais diferenças?
Leticia: A principal diferença que notei logo de cara é a estrutura da UFG, diferente daqui eles tem um único prédio onde o acesso para alunos e pacientes é o mesmo. Nesse prédio ficam as clínicas, os laboratórios e as salas de aula.
Sobre as diferenças de horário, aqui temos somente uma matéria durante o turno da manhã e outra durante o turno da tarde em cada dia, lá são divididos em períodos, então em uma manhã eles têm duas matérias e à tarde a mesma coisa. Outra diferença é a grade curricular, na UFG eles não têm clínicas de disciplinas separadas como aqui, por exemplo: clínicas de endodontia, dentística ou prótese total. As clínicas lá são de Atenção Básica ou integradas, onde cada semestre que eles evoluem, mais matérias são incluídas na clínica integrada e eles passam a fazer mais procedimentos.
O que eu mais gostei na faculdade são as diversas oportunidades que eles têm durante os anos que passam lá. São muitos estágios obrigatórios em diferentes áreas, como no SUS (Sistema Único de Saúde), no hospital do câncer, em cidades vizinhas, entre outros. Acho que isso faz com que eles se aproximem mais da odontologia e consigam descobrir logo as áreas que mais os interessam.
Rodrigo: Certamente, existem muitas diferenças entre as faculdades. Sobre a infraestrutura, a FOUSP tem o prédio de salas de aula, laboratórios e departamentos separados do prédio da clínica escola, enquanto que na UFG é unificado.
Em relação a grade, o início dos dois currículos é muito parecido, mas as maiores diferenças são nas práticas clínicas e nos anos finais. Na UFG, as clínicas são mais integradas, desde o primeiro contato dos alunos, por exemplo, clínica de dentística junto com periodontia. E, no último ano do curso, todos os alunos têm estágios obrigatórios em UBS e hospitais vinculados à faculdade.
Como foi a rotina de vocês durante essa semana?
Leticia: Foi feito um cronograma para a gente com as atividades que mais demonstramos interesse durante uma reunião que tivemos antes de irmos para Goiânia. Como eu gosto de odontopediatria, muito da minha grade tinha relação com isso. Durante a semana foi possível acompanhar clínicas e aulas teóricas, além de conhecer a faculdade. Fomos todos os dias de manhã e à tarde para a faculdade, com exceção de segunda que fomos conhecer o CRER (Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação). Lá acompanhamos o centro cirúrgico no período da manhã, e à tarde a UTI e o Ambulatório. Os outros dias ficamos fazendo atividades dentro da faculdade e à noite alguns dias assistimos palestras das Ligas Acadêmicas de lá.
Rodrigo: A rotina foi cheia, praticamente não tivemos qualquer período sem atividade. Com a ajuda dos professores e alunos da UFG, nós montamos uma agenda antes de viajar. Tivemos a oportunidade de acompanhar as aulas e atividades voltadas para as nossas áreas de interesse.
No meu caso, acompanhei os plantões de cirurgia, clínica de diagnóstico bucal, visita ao HU com residente de bucomaxilo e participação na liga de cirurgia. Além das atividades que não estavam programadas mas foram acrescentadas, como visita aos laboratórios de aconselhamento genético e acompanhamento de duas apresentações de artigos produzidos em uma disciplina de pós graduação.
Encontrou alguma dificuldade durante o intercâmbio?
Leticia: Acredito que a maior dificuldade foi o pouco tempo de preparação que tivemos para ir para lá, o período para organizar as coisas foi curto, mas como as pessoas de lá foram muito receptivas, facilitou muito o processo.
Rodrigo: Tivemos que nos organizar bastante para preparar a viagem porque o dia em que saiu o resultado dos aprovados e a data do intercâmbio foram relativamente próximos. Por conta de algumas questões de espera por respostas e confirmações, tivemos um pouco de dificuldade para reservar a hospedagem. Mas com calma e comunicação tudo foi resolvido.
Sentimos um pouco a diferença de costumes entre as cidades, por exemplo o horário de fechamento do comércio em Goiânia é mais cedo do que em São Paulo. Não dá para deixar de comentar que o calor foi realmente desafiador, que cidade quente. Mas brincadeiras a parte, não tivemos grandes dificuldades durante o intercâmbio.
Com o que você mais se surpreendeu lá?
Leticia: Como eu disse anteriormente, o que eu mais gostei lá, foi também o que mais me deixou surpresa, que é a quantidade de possibilidades de estágios que eles têm durante a graduação. Mesmo o curso sendo somente no período integral, a grade é pensada justamente para que eles tenham oportunidades de conhecer diversas áreas da odontologia e saiam como profissionais completos que saibam trabalhar no SUS, em áreas multiprofissionais, em consultórios privados ou em hospitais e centros cirúrgicos.
Rodrigo: A recepção que tivemos foi inesperada. Tanto da parte dos professores quanto dos alunos. Fomos acolhidos e integrados com a faculdade de uma forma muito carinhosa. Especialmente com os alunos que ficaram mais próximos de nós, a experiência foi leve e divertida.
Por ser um intercâmbio de formato inédito na FOUSP, você recomendaria? Valeu a pena?
Leticia: Sem dúvida alguma recomendaria, o intercâmbio nacional foi uma das melhores experiências que pude viver na graduação, conhecer como funcionam outras faculdades aqui no Brasil foi ótimo. Acredito que por estarmos em uma das melhores faculdades de odontologia do mundo, às vezes nos fechamos para oportunidades que aparecem aqui no Brasil, e com esse intercâmbio eu pude perceber como o cenário da universidade pública brasileira no geral é muito bom e pouco reconhecido. Se eu tivesse a oportunidade teria ficado ainda mais na UFG, com certeza valeu a pena.
Rodrigo: Com certeza, eu recomendo. Para ser sincero, no primeiro momento tive receio de fazer parte da primeira turma de intercambistas nacionais, por não saber o que esperar do processo. Mas foi uma alegria e uma honra ter sido do projeto piloto que representou a FOUSP pelo território nacional.
Para um aluno do segundo ano, acredito que esse formato foi ótimo para ter o primeiro contato com intercâmbio acadêmico. Por ser nacional, temos mais facilidade e conforto para nos programar do que uma viagem ao exterior. Fora ser mais economicamente viável, esse formato é breve e não perdemos aula por ser na semana do CUBO.
Fotos: Leticia Santos Maciel e Rodrigo Camargo Soares Figueiredo