Passada a data do dia 2 de Abril de 2025, Dia Mundial de Conscientização do Autismo, a Profa. Dra. Marina  Gallottini, Coordenadora do Centro de Atendimento a Pacientes Especiais (CAPE), contou um pouco da evolução do atendimento ao paciente com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ao longo dos anos.

O CAPE presta atendimento odontológico para pessoas com necessidades especiais, seja ela neurológica, psiquiátrica, física ou orgânica, desde sua fundação, em 1989.Geralmente, duas triagens anuais são abertas para novos pacientes e, há cerca de dez anos, nota-se que a grande maioria dos pacientes que procuram o CAPE são pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), crianças e adultos.

Nos dois últimos anos, especialmente pós pandemia, esse percentual cresceu ainda mais, de acordo com a Profa. Dra. Marina Gallottini. “Não podemos fechar os olhos para esse grupo de pacientes que está totalmente excluído dos serviços de saúde bucal na nossa sociedade”, concluiu a docente.  Para agregar qualidade a esse tipo de atividade de extensão, seja na formação do cirurgião-dentista, quanto na experiência necessária para atendimento ao paciente, é primordial estudar mais sobre o assunto. Assim, a Profa. Marina Gallottini elaborou um projeto de pesquisa sobre como a saúde bucal impacta no comportamento da pessoa TEA.

Já existem, atualmente, evidências científicas que explicam, em parte, como  a pobre saúde bucal impacta no comportamento de pessoas com doenças psiquiátricas, Parkinson, Alzheimer e autismo.

As pessoas do espectro autista enfrentam problemas odontológicos semelhantes à população neuro típica mas com os agravantes de acesso diminuído aos serviços de saúde bucal, pior cooperação durante atendimentos odontológicos, seletividade alimentar, dentre outros. A presença de focos de infecção bucais nesses indivíduos pode levar ao aumento do estado inflamatório local e sistêmico,  transpondo a barreira hemato encefálica. Por essa razão o desequilíbrio na microbiota tem sido associado a uma variedade de distúrbios neurológicos.

Apesar de estar no início, o estudo já revela melhora do comportamento de alguns pacientes, relatados pelos seus cuidadores, em casa: “Isso explica que alguns comportamentos autistas são modulados, parecendo uma melhora… E é essa relação que queremos mostrar”, afirma a docente.

Esse projeto cria uma oportunidade inédita para que alunos de pós-graduação tenham uma maior dedicação a essa população  específica. 

Porém, para dar continuidade, a Coordenadora do CAPE se viu com uma demanda adicional: “Vimos que tínhamos a necessidade de um espaço mais humanizado para atender esses pacientes, porque eles são sensíveis sensorialmente, especialmente com barulho, luz forte e estímulos visuais”. 

Em busca de concretizar esse feito, ela procurou uma parceria com a empresa Colgate e a LAOHA (Latin American Oral Health Association), uma associação sem fins lucrativos, filantrópica, centrada em pesquisa e prática baseada em evidência, que já estavam envolvidas em outros projetos relacionado a essa linha de cuidados com pessoas deficientes, e por isso poderiam ser potenciais parceiros para abraçar essa causa.

Através de um convênio de colaboração firmado pela FOUSP e essas duas empresas, denominado Projeto SOS TEA,  foi possível a reforma de um espaço no CAPE dando origem à sala odontológica sensorial,  mais humanizada e acolhedora.

A Sala Odontológica Sensorial  foi inaugurada em fevereiro de 2025, como objetivo criar um ambiente odontológico mais humanizado para melhorar a colaboração do paciente com transtornos de espectro autista (TEA) e outras deficiências.Contando com iluminações diferentes, projeções na parede e outros itens interativos, já se tornou possível observar o impacto positivo da sala na melhor aceitação do paciente, mesmo com curto período desde sua efetivação. Dessa forma, o CAPE promove a inclusão social através da reabilitação oro-maxilo-facial de pacientes especiais, bem como através da formação, capacitação e treinamento de cirurgiões-dentistas para o atendimento a essa população.

Em relação a esse novo espaço, um dos fatos mais interessantes que se pôde observar é o grande sucesso que tem feito, junto aos pacientes, seus responsáveis e também junto aos dentistas! 

Devido a um projeto de atualização do CAPE, muitos cirurgiões-dentistas vêm de fora da FOUSP para aprimoramento profissional no CAPE. Eles atuam, sob supervisão, na clínica atendendo pessoas com necessidades especiais e  participam de encontros teóricos. Atualmente o CAPEconta com 75 cirurgiões-dentistas em seu Programa de Atualização, edição 2025. Esse programa possibilita não somente a realização média de 800 atendimentos odontológicos mensais de pessoas comprometidas sistemicamente (pacientes especiais), como também é grande responsável pela disseminação do conhecimento desta área junto aos dentistas que o frequentam.

De acordo com a Profa. Marina Gallottini, alguns dentistas do programa de atualização já se inspiraram com a sala sensorial do CAPE e estão criando espaços semelhantes em suas clínicas.

Por fim, a Profa. Dra. Marina Gallottini, entusiasta da causa, acredita que a pesquisa trará avanços no tratamento do paciente TEA, já que estes representam mais de 500 pacientes cadastrados no CAPE, fora os contabilizados na lista de espera. Ela que já coordenou outros projetos de inclusão, salienta o papel da Universidade de São Paulo nessas ações. 

A abordagem do CAPE combina pesquisa inovadora, capacitação profissional e inclusão social. Projetos como a Sala Odontológica Sensorial mostram como é possível adaptar espaços às necessidades sensoriais desses pacientes, promovendo maior aceitação e colaboração.

A capacitação de novos cirurgiões-dentistas, combinada com a inclusão de ferramentas adaptadas para higiene bucal, solidifica o compromisso do CAPE com uma odontologia mais humanizada e acessível.

Texto e fotos: Leticia Acquaviva e Marina Colmanette