publicado no Jornal da USP

João Batista de Paiva explica as razões para que os animais façam essa troca, que, no caso dos seres humanos, tem muito a ver com a anatomia

A foto mostra uma crianças de uns 7 anos sentada na cadeira do dentista. Ela está sendo atendida por duas profissionais, sendo que um a (Provavelmente a dentista) de jaleco branco está introduzindo um esguicho de água na boca da criança. A segunda profissional, de jaleco roxo, tem um aparelho que parece ser um extrator de tártaro.
Os dentes de leite servem como um meio para se conseguir nutrientes e uma espécie de “treino” para que humanos cheguem aos 6 anos já sabendo mastigar e se comunicar – Foto: prostooleh/Freepik

Tocador de áudio

Use as setas para cima ou para baixo para aumentar ou diminuir o volume.

Logo da Rádio USP

Toda experiência é compartilhada. E não só na história humana, do medo de perder o dente e depois se animar com a fada que vem buscá-lo. Também com os outros animais: quase todos os vertebrados trocam de dentes. Entre os mamíferos, a média é uma só vez, com exceção de golfinhos, que não trocam, e dos elefantes, que trocam seis. Mas, via de regra, é uma só, tal como os humanos. Já a razão disso não é nem um pouco óbvia: por que gerar um dente só para cair depois? Por que não nascer com o definitivo de uma vez?

Os dentes de leite começam a nascer a partir do sexto mês, enquanto os dentes permanentes despontam a partir do sexto ano de vida. O professor da Faculdade de Odontologia da USP, João Batista de Paiva, traz a explicação desse fenômeno: “Essa troca nos primeiros anos de vida permite ao ser humano adequar e melhorar o seu sistema mastigatório e está intimamente ligada ao crescimento e desenvolvimento da face”.

Fase de crescimento

João Batista de Paiva – Foto: Reprodução/FO-USP

A razão de não nascermos com dentes definitivos é anatômica: “Quando os humanos nascem, seus maxilares e mandíbulas são pequenos e não têm espaço suficiente para os dentes permanentes, que são maiores e em maior número”. Na dentadura decídua, os chamados dentes de leite, são 20 dentes. Mas, por volta dos 6 anos de vida, além dos dentes começarem a cair, nascem outros 12 permanentes, totalizando 32 numa dentadura completa. Estes novos que surgem são os molares, os quais têm como característica serem mais espaçosos e robustos.

“A estrutura maxilar dos bebês não está apta para receber os dentes definitivos, então temos dentes decíduos que estão lá para auxiliar nosso desenvolvimento nesse meio tempo”, resume João Batista de Paiva. Os dentes de leite, nesse sentido, “guiam e guardam o espaço necessário para que os dentes permanentes ocupem as suas posições”.

Treino de habilidades

Além de “guardar espaço” para os dentes permanentes que virão, os dentes de leite servem também como treino. Por exemplo, o corpo humano poderia ter somente dentes permanentes, que nasceriam somente quando a anatomia estivesse preparada para isso, aos seis, sete anos. Mas ser banguela por tanto tempo não seria tão bom para nós.

Ter dentes de leite nos possibilita várias habilidades enquanto o corpo não está apto a receber os dentes definitivos. “Podemos destacar as duas mais importantes, que é na mastigação e na fala. Na fala, os dentes auxiliam a definir o espaço adequado da língua e a produção de alguns sons. Tanto a mastigação quanto a fala são processos que passam por um aprendizado, no qual os dentes da primeira dentição são elementos fundamentais”, afirma o odontólogo. No caso da mastigação, há ainda o acréscimo do benefício de conseguir nutrientes de comidas que precisam ser mastigadas, e aos poucos a criança pode desenvolver uma dieta independente do leite materno.

Sendo assim, os dentes de leite também servem como um meio para se conseguir nutrientes e uma espécie de “treino”, uma preparação para que os humanos cheguem aos 6 anos, quando recebem os dentes definitivos, já sabendo mastigar e se comunicar.

*Estagiário sob supervisão de Marcia Avanza e Cinderela Caldeira