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Cada vez mais cresce o número de pessoas interessadas em melhorar a estética do sorriso e, como consequência, a cor dos dentes.

Devido ao custo menor, se comparado aos clareamentos realizados por dentistas, muitas pessoas acabam optando pelos cremes dentais branqueadores. Mas apesar de terem venda livre em supermercados e farmácias, esses produtos não devem ser usados da mesma forma que as pastas convencionais.

Antes de entendermos o porquê, é importante compreender os três mecanismos de ação que o mercado dispõe hoje: os abrasivos, os químicos e os modificadores ópticos.

Abrasivos: Compõem a maior parte das formulações e contam com agentes como sílica hidratada, carbonato de cálcio e bicarbonato de sódio. “Eles não alcançam a estrutura interna do dente. Por isso, sua atuação é bastante superficial, surtindo efeito apenas em manchas causadas por pigmentos ainda não impregnados. Seu efeito acaba sendo mais de polimento do que de clareamento”, conta Juliana Brasil, especialista em estomatologia da clínica de oncologia médica Clinonco e do Hospital Estadual Heliópolis, de São Paulo.

Químicos: Uma das substâncias é o peróxido de hidrogênio (a popular água oxigenada), também usado em clareamentos no consultório odontológico e que age na estrutura interna do dente. Mas diferente do tratamento feito com dentista, nos cremes dentais a concentração dessa substância é muito baixa e o contato com a superfície do dente é de curta duração. Outro agente é o tripolifosfato de sódio, com atuação mais superficial. Ele impede que as moléculas formadoras de pigmentos se instalem.

Modificadores ópticos: O dióxido de titânio e o azul de covarina são alguns desses agentes. O azul de covarina, por exemplo, é um pigmento que se deposita uniformemente na superfície de dente, causando uma mudança de cor de amarelo para azul, criando efeito óptico de clareamento dental.

Cuidado com os cremes abrasivos

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Presente na maioria das pastas branqueadoras, os agentes abrasivos possuem níveis diferentes de intensidade, todos dentro das normas da Anvisa, mas se forem usados de forma indiscriminada, podem ser prejudiciais.

A cor do dente, na maior parte dos casos, vem da tonalidade da dentina, que se localiza na parte intermediária, por baixo do esmalte. Por isso o uso de cremes abrasivos, que agem de forma superficial, não traz um clareamento efetivo.

Se a abrasividade for alta, somada a escovação várias vezes ao dia e feita com muita força, pode desgastar o esmalte, evidenciando a cor da dentina, trazendo uma aparência mais amarelada aos dentes.

Isso porque, quanto menor for a espessura do esmalte, mais o amarelo da dentina fica perceptível. Com isso, o efeito pode ser contrário ao desejado.

Outro ponto de atenção diz respeito à acidez. O consumo frequente de frutas cítricas e outros alimentos com pH baixo, e casos de refluxo, para quem tem problemas gástricos, por exemplo, podem amolecer a estrutura dental, facilitando o desgaste diante do uso de cremes mais abrasivos.

Isso também vale para quem sofre com bruxismo ao dormir, já que o desgaste causado pelo atrito dos dentes pode torná-los ainda mais suscetíveis à sensibilidade.

Fora o clareamento pouco expressivo desses cremes, aqueles muito abrasivos também podem aumentar a rugosidade dos dentes, levar a retração da gengiva e sensibilidade dentária. Com isso, alimentos muito quentes ou frios podem vir a incomodar.

“O uso prolongado pode levar a danos irreversíveis ao esmalte e às superfícies de raízes dentárias expostas”, reforça David Barros, cirurgião dentista pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e da clínica ITA, em Salvador.

Há perigo ainda para as restaurações devido ao aumento da rugosidade superficial, diminuindo o brilho e aumentando a pigmentação por conta da maior porosidade. Além disso, se já houver sensibilidade nos dentes, esses cremes podem piorar o quadro.

E os outros agentes?

Segundo Tais Scaramucci Forlin*, professora do Departamento de Dentística da Faculdade de Odontologia da USP, o peróxido de hidrogênio merece atenção. “Há uma preocupação com o uso dessa substância por tempo prolongado, uma vez que ela pode irritar os tecidos moles, como a gengiva, além de poder causar alterações nas superfícies dos dentes, dependendo da concentração”, alerta.

Entretando, Forlin reforça que a quantidade desse agente nas pastas branqueadoras é muito baixa e o tempo de contato reduzido não costuma trazer consequências, mas também não promovem um clareamento expressivo.

Já as pastas com tripolifosfato de sódio, de ação química, ou os modificadores ópticos, não causam malefícios, mesmo com uso frequente.

Como fazer clareamento seguro

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As manchas dentais podem ser classificadas em extrínsecas e intrínsecas.

As extrínsecas são aquelas que se formam na superfície do dente e são causadas por fatores externos, como o consumo de alimentos e bebidas com corantes, tabaco e placa bacteriana.

Já as intrínsecas se formam no interior do dente e são causadas por fatores internos, como a exposição a altas concentrações de flúor, trauma dentário e uso excessivo de antibióticos.

Por isso a avaliação do dentista é tão importante para realizar o clareamento de forma segura e efetiva. O paciente poderá fazer o tratamento dentro do consultório, com efeito mais imediato, ou em casa.

Neste segundo caso, é fornecido uma moldeira especialmente preparada onde irá o peróxido de hidrogênio em alta concentração à base de gel, vendido sob controle pelo próprio dentista.

le também indicará o tempo correto e a maneira de utilização do produto. Isso garante a proteção de gengiva, tecidos moles, língua, bochechas e lábios dos efeitos colaterais do produto.

Nos dois casos, há um processo químico de reação com as partículas dos pigmentos que escurecem os dentes, quebrando-as em partículas menores.

“É importante ressaltar que o uso dos cremes dentais branqueadores não é proibido, mas o ideal é que a prescrição seja feita por um profissional qualificado, a partir da avaliação da causa ou origem das manchas nos dentes e da necessidade de associação com outros tratamentos clareadores”, pondera Forlin.

*As respostas da professora Tais foram dadas em conjunto com Raíssa Manoel Garcia, doutoranda do Departamento de Dentística da Faculdade de Odontologia da USP.