publicado em UOL
Diana Cortez
Colaboração para VivaBem
Os sisos são dentes conhecidos como terceiros molares e têm a função de triturar o alimento e deixar o bolo alimentar bem mastigado para ser engolido.
Formados tardiamente na boca, por volta dos 15 anos, sua erupção costuma acontecer aos 18 ou 19 anos. Daí a origem do nome popular “dente do juízo”, já que o período de seu aparecimento coincide com a maioridade civil.
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No entanto, a evolução humana fez com que, de certa maneira, os dentes do siso perdessem sua função. Isso porque passou-se a cozinhar os alimentos para torná-los mais macios ao consumo, exigindo menos mastigação e força da mandíbula.
O resultado é que muitas pessoas deixaram inclusive de desenvolver os terceiros molares. Outras, no entanto, fazem a cirurgia de retirada desses dentes por orientação do dentista. Mas, afinal, todo mundo realmente deve tirar os sisos?
A seguir, confira os mitos e as verdades sobre o tema.
Todos precisam remover o dentro do siso?
Mito. A retirada do siso só deve ser indicada se este dente estiver causando algum problema, sendo que, na maioria das vezes, são os ortodontistas que orientam ou não o procedimento.
O profissional vai fazer uma avaliação para verificar se o dente tem espaço e condição para nascer, além de investigar se existem problemas que justifiquem a cirurgia de remoção por meio de exames (radiografia panorâmica da face e/ou tomografia).
A pericoronarite, infecção da gengiva que encobre parcialmente o dente do siso durante sua erupção, é outra condição com indicação da cirurgia, uma vez que causa muita dor, além de poder gerar a reabsorção óssea e até dificuldade de abrir a boca.
O siso influencia no alinhamento dos demais dentes?
Mito. Apesar de existir essa crença entre os profissionais de odontologia, os estudos mais atuais e robustos mostram que não há associação significativa entre a presença do terceiro molar e o desalinhamento dentário.
A principal causa aventada pelos cientistas é de que o desalinhamento dos dentes seja causado por um processo natural de constrição do arco mandibular, que vai se tornando mais estreito por conta da própria mastigação e pelos pequenos desgastes que acontecem nas faces dos dentes ao longo do tempo,
O siso só pode ser extraído nos jovens?
Mito. Em geral, a cirurgia é indicada quando o paciente ainda é jovem, pois a raiz do terceiro molar não está totalmente formada e o procedimento torna-se mais tranquilo. No entanto, mesmo os adultos podem fazer a extração dos sisos caso o profissional especializado recomende. E, geralmente, a indicação acontece quando o dente estiver causando mais danos do que benefícios.
Todos os sisos podem ser removidos de uma vez?
Verdade. Mas o cirurgião-dentista é quem vai avaliar e planejar o procedimento, indicando a remoção de dois sisos ou dos quatro de uma vez. É mais confortável para o paciente quando apenas dois sisos do mesmo lado são extraídos por vez, uma vez que possibilita que ele tenha um lado para mastigar durante a recuperação.
No entanto, esta decisão vai depender da situação de cada paciente e do grau de dificuldade da cirurgia, pois os sisos que já “nasceram” costumam ser mais fáceis de serem extraídos em relação àqueles que ainda estão dentro da gengiva.
Algumas pessoas com condições específicas de saúde não têm indicação da cirurgia de extração dos sisos?
Verdade. Esse grupo envolve os pacientes com doenças sistêmicas, autoimunes, aqueles que apresentam deficiência na coagulação ou ainda que fazem uso de imunossupressores.
Eles deverão ser acompanhados pelo profissional, que solicitará radiografia ou tomografia anualmente para verificar se há a formação de alguma patologia (cistos e tumores), que podem levar a uma reabsorção óssea na região ou impactar a saúde dos demais dentes.
A cirurgia de remoção do siso é feita com anestesia local?
Depende. Em geral, o procedimento é realizado em consultório odontológico com anestesia local por um cirurgião-dentista, com baixo risco. Mas, em casos excepcionais em que o dente está deitado e ainda não “deu as caras”, o grau de dificuldade do procedimento aumenta. Então, pode ser programada uma cirurgia em ambiente hospitalar que use anestesia geral.
A cirurgia de extração dos sisos pode impactar outras estruturas?
Verdade. Mesmo as cirurgias odontológicas envolvem algum risco, como distúrbio de um nervo, infecção, hemorragia, além dos incômodos esperados: dor, inchaço e limitação na abertura da boca.
Pode acontecer, por exemplo, a parestesia, que é a perda de sensibilidade de alguma região da boca, como a língua ou o lábio inferior. Mas essa condição pode ser facilmente tratada com aplicação de laser para estimular a regeneração nervosa na região e medicamentos que ajudam a recuperar a sensibilidade.
Pacientes com diabetes ou hipertensos podem fazer a cirurgia de retirada dos sisos?
Verdade. Mas desde que a comorbidade esteja controlada. Caso contrário, o cirurgião-dentista encaminhará o paciente para o médico que o acompanha a fim de que a condição seja estabilizada.
Mulheres grávidas podem fazer a extração do siso?
Verdade. Caso a cirurgia realmente seja necessária, deverá ser realizada no segundo trimestre de gestação, quando há uma maior estabilidade fetal. No entanto, se for possível controlar a situação, a gestante será orientada a fazer a higienização correta para evitar complicações e o procedimento, adiado para depois do parto e, se possível, quando ela parar de amamentar. Isso porque os medicamentos podem interferir no leite materno.
É necessário fazer o uso de antibióticos antes da cirurgia de retirada dos sisos?
Mito. Apesar de esta ser a orientação de alguns profissionais com o objetivo de evitar uma futura infecção local, não existem evidências científicas de que esse procedimento previna um quadro infeccioso nos pacientes saudáveis.
As exceções ficam por conta dos imunossuprimidos ou daqueles que estiverem em tratamento quimioterápico e que passarão por uma cirurgia mais complicada.
É importante lembrar que o uso de antibióticos sem necessidade tem um grande impacto no desenvolvimento de superbactérias no meio ambiente e na resposta do organismo em quadros infecciosos futuros. Além disso, é importante que o dentista deixe a boca preparada para receber uma cirurgia, realizando uma limpeza de tártaro e tratando possíveis cáries existentes.
É mais correto dar ponto no local de extração dos sisos?
Verdade. A sutura tem a função de imobilizar a gengiva que envolvia o dente, evitando que o coágulo em formação seja afetado, além de contribuir para que os tecidos da gengiva se reparem. Caso contrário, o risco de um corpo estranho entrar na cavidade onde estava o dente ficam maiores assim como o risco de haver um novo sangramento ou hemorragia.
A não ser que o fio seja reabsorvível, a sutura deve ser retirada após sete dias. Até lá, deve-se priorizar a boa higienização da boca.
Fontes: Maria Cristina Deboni, professora associada do Departamento de Cirurgia da FO-USP (Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo); Martinho Dinoá Medeiros Junior, professor adjunto do curso de odontologia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco); Murilo Fernando Neuppmann Feres, professor da disciplina de ortodontia e de prática baseada em evidências da FORP-USP (Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto). Revisão técnica: Martinho Dinoá Medeiros Junior.