O transplante de órgãos é um procedimento cirúrgico que consiste em substituir um órgão doente ou danificado por um órgão saudável de um doador. Vários órgãos podem ser transplantados, como coração, pulmão, fígado, rim, entre outros. Recentemente, muito falou-se da importância da doação de órgãos em função do caso do apresentador Fausto Silva, o Faustão, que passou por um transplante de coração e impulsionou o interesse do brasileiro pelo tema, tanto que houve um aumento de 128% nos registros em cartório de indivíduos que desejam ser doadores de órgãos.
Contudo, para o sucesso do transplante alguns cuidados orais são fundamentais no período que antecede, durante e após o procedimento, como enumera o Cirurgião-Dentista Dr. Fabio de Abreu Alves, Prof. da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP), presidente da Câmara Técnica de Estomatologia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) e Diretor do Departamento de Estomatologia do Hospital AC Camargo.
1. Consultar um Cirurgião-Dentista antes do transplante
De acordo com Dr. Fabio, é recomendado realizar uma consulta odontológica antes do transplante para avaliar a saúde bucal e tratar quaisquer condições existentes, como cárie, infecções ou doença periodontal. Da mesma forma, dentes irreparáveis devem ser extraídos. Todo e qualquer foco de infecção na boca deve ser removido antes do transplante. “É Importante ressaltar que a maioria dos hospitais tem o Cirurgião-Dentista junto à equipe que vai realizar o transplante”.
O especialista esclarece que o tratamento de infecções orais como gengivite, periodontite ou infecções de origem endodôntica devem ser tratadas para evitar a disseminação de bactérias na corrente sanguínea.
2- Cuidados durante o transplante
Muitos tipos de transplantes, segundo Dr. Fabio, requerem avaliação diária do Cirurgião-Dentista. Neste período, o paciente se apresenta com intensa imunossupressão e pode desenvolver infecções virais, bacterianas e fúngicas na boca. “O Cirurgião-Dentista deve realizar o diagnóstico e tratamento destas infecções. Especificamente no transplante de células tronco hematopoiéticas, o regime de condicionamento pode causar mucosite, que são feridas doloridas decorrentes da quimioterapia. Também temos a função de prevenir e amenizar a mucosite oral”, esclarece Dr. Fabio.
3. Cuidados após o transplante
Pacientes transplantados e que recebem imunossupressores também apresentam maior risco para desenvolver infecções orais. Portanto, consultas regulares com o Cirurgião-Dentista são importantes, lembra o especialista. “Se o paciente usa prótese dentária, é importante garantir que ela esteja limpa e bem ajustada, para evitar irritações”.
Por fim, Dr. Fabio cita a doença do enxerto versus o hospedeiro. Trata-se, segundo ele, de uma complicação potencial após um transplante de células-tronco hematopoiéticas. “É uma reação adversa em que as células imunológicas do enxerto (transplante) atacam os tecidos do hospedeiro (a pessoa que recebe o transplante). Isso ocorre porque o sistema imunológico do doador reconhece os tecidos do receptor como estranhos e desencadeia uma resposta inflamatória. Sua forma crônica ocorre após 100 dias do transplante e afeta, principalmente, a pele, a boca, glândulas salivares e os olhos, mas também pode afetar outros órgãos”.
O controle desta reação, segundo Dr. Fabio, é fundamental para melhor qualidade de vida do paciente.