publicado no portal Terra

Graduação da USP ocupa 13ª colocação em ranking mundial; Unicamp, Unesp e UFRGS também tiveram lugar de destaque

Projeto Sorria Para o Bem

Com reconhecimento internacional, os cursos de odontologia brasileiros alcançam lugares de destaque diante de outros países. Quatro instituições de ensino do Brasil figuram entre as 50 melhores graduações da área no mundo, segundo o QS World University Rankings by Subject, divulgado na última quarta-feira, 10.

A melhor colocação foi obtida pelo curso de odontologia da Universidade de São Paulo (USP), que ficou com o 13º lugar. A instituição subiu mais uma posição em comparação ao ranking do ano passado, no qual estava em 14º. Assim como a USP, a Universidade Estadual de Campinas também avançou no levantamento, já que saiu do 29º para o 23º neste ano.

Em seguida, aparecem a Universidade Estadual Paulista (Unesp), com o 36º lugar, e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com o 50º. Apesar da boa colocação, as instituições registraram queda no levantamento em relação à edição anterior, que estavam no 31º e 48º lugar, respectivamente.

Destaque da USP

Com o melhor desempenho no ranking, a USP possui três Faculdades de Odontologia, sendo a mais antiga na cidade de Ribeirão Preto, a FORP. As outras duas são a FOUSP, na capital, e a FOB, em Bauru.

Segundo a diretora da Faculdade de Odontologia de Bauru, a professora Marília Buzalaf, a posição de destaque no levantamento internacional representa o trabalho desenvolvido pelas três instituições ao longo de tantas décadas de ensino no País.

“É resultado de muito trabalho e muito esforço de toda a nossa comunidade. A odontologia, como um todo no Brasil, é bastante forte e pujante. Nós tivemos várias universidades brasileiras entre as melhores do mundo. Nós temos um grande número de publicações reconhecendo o Brasil. Nós observamos que, por exemplo, quando nós chegamos a um congresso no exterior, o Brasil é bastante conhecido e respeitado”, reitera.

A diretora ainda pontua que o País é uma referência e expoente para profissionais no que diz respeito às técnicas e procedimentos brasileiros. “Nós exportamos técnicas, tecnologias, e isso tem um grande peso na nossa avaliação”, aponta.

Investimento em formação e pesquisa

Para o o professor Giuseppe Romito, vice-diretor da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (UFOUSP), um dos grandes diferenciais da graduação é a formação multidisciplinar dos estudantes e o forte investimento na pesquisa. Na USP, em particular, os alunos têm acesso a diversas atividades de extensão, como a participação em ligas acadêmicas e iniciação científica.

“Isso já vem relacionado ao investimento que a área de odontologia tem feito há muitos anos, justamente de parcerias internacionais, principalmente relacionadas à pesquisa. Isso vai se tornando uma rede, e isso vai elevando cada vez mais a reputação. Sem dúvida nenhuma, a pesquisa é um fator que impacta muito”, afirma.

Além disso, o vice-diretor destaca que esse foco acadêmico reflete em diversos aspectos na instituição, entre eles o melhor ensino tanto na graduação quanto na pós-graduação e desenvolvimento do próprio docente.

“Quando você tem um ambiente que é calcado em pesquisa, e vem outras ações como iniciação científica, desenvolvimento de projetos, em última análise, explorando um pouco mais, não é nem só da pesquisa, é da produção de conhecimento”, acrescenta.

Realização

Prestes a iniciar o quinto semestre do curso, a estudante Marina Timbó Colmanette, de 19 anos, conta que a entrada na graduação de odontologia foi a realização de um sonho da adolescência. Integrante de uma família de cirurgiões-dentistas, a jovem se identificou com a área de saúde antes mesmo de escolher qual profissão gostaria de seguir.

“Antes do vestibular, já sabia que gostaria de fazer um curso na área de saúde, e a odontologia era um sonho. Fazer o curso na USP é maravilhoso, principalmente pela estrutura e professores renomados. Ainda faço estágio na assistência de comunicação e integro o time de handebol”, revela.

Além das atividades oferecidas pela instituição, a estudante destaca a importância do aprendizado teórico juntamente ao rigor levado para as disciplinas práticas, além da relação direta com o atendimento de pacientes ao longo da graduação. Segundo ela, a parte teórica é tão importante quanto a prática, o que diferencia o curso brasileiro do ensino de outros países.

Para o cirurgião-dentista Arthur Lima, que hoje faz doutorado na Universidade Federal da Bahia (Ufba), a prática desde o início da graduação contribui para a posição de destaque em rankings mundiais. Além disso, a estruturação dos módulos de ensino e disciplinas mais especializadas fazem a diferença na formação.

O cofundador da AfroSaúde –healthtech que desenvolve soluções com objetivos sociais e organizacionais voltada para a população negra–, compara a graduação brasileira ao que é oferecido em alguns países da Europa. Por lá, a odontologia é uma especialização que pode ser feita após a formação em medicina.

“Ou seja, a pessoa se forma em medicina e faz uma especialização para se tornar médico dentista. Aqui, no Brasil, a profissão é independente da medicina, e é um curso de 5 anos. Isso influencia muito na base curricular entre uma graduação completa e uma especialização”, observa.

Cenário brasileiro

O reconhecimento da odontologia também reflete na dimensão da categoria no Brasil. Atualmente, o País possui mais de 400 mil cirurgiões-dentistas com cadastro ativo no Conselho Federal de Odontologia (CFO).

Segundo o conselheiro federal Evaristo Volpato, que atua como diretor tesoureiro na instituição, a tendência é que o contingente de profissionais continue aumentando, considerando a oferta de cursos de graduação. Contudo, mesmo com o reconhecimento e cenário promissor, ele alerta que o atual cenário levanta reflexões pertinentes que perpassam por aspectos institucionais e até sociais.

“Se por um lado temos realmente uma odontologia de ponta, cabe duas reflexões: ‘Será que a população está sendo beneficiada na mesma proporção?’ e ‘Será que todos os cirurgiões-dentistas estão sendo formados com esse nível de qualidade?'”, provoca.

Quanto à qualidade da formação, Volpato explica que o tema é uma das preocupações do CFO. Para entender a situação no País, o conselho trabalha na aplicação de um estudo de proficiência nas capitais do Brasil.

“Faz parte da nossa proposta realizar um exame em nível nacional para avaliar como estão os conhecimentos e como está a formação dos profissionais que estão entrando no mercado da odontologia”, diz.