publicado na Marie Claire

Transtorno conhecido pela sigla DTM atinge até 30% dos adultos. Trata-se da segunda doença mais comum do sistema musculoesquelético, depois da dor crônica nas costas

Por Marcella Centofanti, em Colaboração para Marie Claire — São Paulo

Estalos ao abrir a boca, dor nos músculos da mastigação e mandíbula travada. Se você perceber algum desses sinais e sintomas com frequência, talvez tenha disfunção temporomandibular (DTM), uma condição comum que atinge mais mulheres do que homens.

Estima-se que 30% da população adulta e 11% das crianças tenham DTM, segundo o dentista Newton Sesma, professor associado do Departamento de Prótese e coordenador da área de Reabilitação Oral do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP). “É a segunda doença mais comum do sistema musculoesquelético, depois da dor crônica nas costas”, afirma ele.

O que é a disfunção temporomandibular?

A DTM é definida pela Academia Americana de Dor Orofacial como um grupo de distúrbios envolvendo os músculos da mastigação, a articulação temporomandibular (ATM) e estruturas relacionadas, como os ramos do nervo trigêmeo. “É uma das condições clínicas mais associadas à dor orofacial”, diz Sesma.

Muitas pessoas confundem as siglas DTM e ATM. Enquanto a primeira se refere ao transtorno que atinge uma parte da população, a segunda é uma articulação que todos nós temos. A ATM é responsável pelos movimentos de abrir e fechar a boca, além de mobilidade lateral e para a frente e para trás da mandíbula.

Quais são as causas da DTM?

As DTM podem ser causadas por fatores locais, como traumas (lesões ou impactos) na região mandibular, estímulos de dor nos músculos e nas articulações, stress, mudança na forma como os dentes se encontram e instabilidade nas estruturas ósseas ou articulares da mandíbula.

Elas também estão relacionadas a dores nos músculos e tecidos da região cervical, assim como a condições que causam dor crônica, tipo fibromialgia, síndrome do intestino irritável, síndrome da fadiga crônica, cefaléia tensional, enxaqueca, cistite intersticial e endometriose.

Fatores genéticos, biológicos, hormonais, psicossociais e até a qualidade do sono podem explicar porque uma pessoa desenvolve DTM.

Por que é mais comum em mulheres?

Estima-se que a DTM seja duas vezes mais comum em mulheres do que em homens. As razões por trás do desequilíbrio por sexo não são totalmente claras.

“Estudos sugerem uma diferença no limiar de sensibilidade a calor e pressão, influência genética, fatores psicossociais e biológicos, como hormônios”, esclarece a dentista Simone Saldanha Ignacio de Oliveira, especialista em desordem temporomandibular, dor orofacial e oclusão.

A DTM é um distúrbio multifatorial, em que questões psicossociais, queixas psicológicas e somáticas costumam estar relacionadas ao sofrimento psíquico. “As mulheres apresentam maior prevalência de tensão emocional, depressão e ansiedade, além de demonstrarem maior preocupação com a saúde do que os homens”, aponta Oliveira.

Quais são os sintomas da DTM?

O distúrbio pode causar uma série de sinais e sintomas:

– Dores nos músculos da mastigação e/ou articulação da boca, que pioram ao mastigar, abrir a boca e/ou falar;
– Sensação de cansaço e fadiga nos músculos da mastigação;
– Dificuldade para abrir a boca;
– Presença de barulhos como estalos e ruídos arenosos;
– Dores no ouvido e na frente dele;
– Mandíbula travada quando a pessoa abre ou fecha a boca;
– Dificuldade de fazer movimentos laterais da mandíbula;
– Dor de cabeça na região das têmporas;
– Zumbidos.

Qual é o tratamento de DTM?

O tratamento da DTM varia dependendo da causa, do diagnóstico clínico e de exames complementares de imagem. “A recomendação é sempre começar por tratamentos conservadores, reversíveis e não invasivos”, afirma a dentista Juliana Ignacio de Oliveira, mestranda em reabilitação oral na FOUSP.

Entre as medidas iniciais estão uso de placas oclusais, prática de mindfulness, fisioterapia, laserterapia de baixa potência e remédios. Se nada disso funcionar, pode-se lançar mão de abordagens minimamente invasivas (como a injeção de medicamentos nas articulações) e até mesmo cirurgias.

É possível prevenir ou minimizar os sintomas do distúrbio mantendo os dentes desencostados, os lábios selados e a língua no céu da boca. Stress sob controle e sono de qualidade também afastam a doença.

“É importante lembrar que a DTM é uma condição complexa e multifatorial. Se você apresentar sintomas, é fundamental buscar a avaliação de um cirurgião dentista especialista em disfunção temporomandibular para um diagnóstico adequado, tratamento personalizado e com equipe multidisciplinar”, diz Sesma.